
Eduardo Bonnin nasceu em 04 de Maio de 1917, em Palma de Maiorca, no seio de uma família tradicional com 10 irmãos, 3 rapazes e 7 raparigas, sendo um dos seus irmãos Sacerdote e uma irmã Freira. Pertencia a uma classe de sociedade alta e de formação cristã, com uma boa situação económica uma vez que os seus pais eram proprietários da Almasa SA (Amêndoas de Maiorca).
Desde novo o seu avô influenciou-o muito para a leitura… disse um dia numa en- trevista: que preferia um dia sem comer que um dia sem ler. É educado num colégio. Mas o seu avô foi a principal referência na sua formação intelectual, moral e social. Eduardo teve desde jovem, a visão e a inquietação de levar o Evangelho aos mais afastados de Cristo.
Eduardo Bonnín de Aguiló, alistou-se no serviço militar em 1937, em plena época de Guerra Civil. Aí foi confrontado com um mundo de homens, onde a grande maioria eram Jovens como ele, mas viviam na maior miséria moral e religiosa e, em ambien- tes claramente hostis à religião católica. Foi no meio deste ambiente, que Eduardo conservou intactos, uma série de comportamentos evangélicos e de valores cristãos, que lhe vinham do berço.
Terminada a Guerra Civil Espanhola em 1939, o Presidente da Acção Católica Manuel Aparici, continua a preparação de Jovens para a Peregrinação à Santiago de Com- postela. É nesta exaltação e ardor apostólico, que aparece o Jovem Eduardo Bonnín como um líder incontestável. Mas a 2ª. Guerra Mundial leva-o a ficar no serviço mil- itar até ao ano de 1946. Foi durante o serviço militar que Eduardo conheceu os am- bientes descristianizados e hostis ao catolicismo e a realidade autêntica de todas as classes sociais da época. Mas também foi lá, que encontrou valores e comportamen- tos evangélicos reais, em relação aos muito piedosos que bem conhecia. O serviço militar para Eduardo, foi uma Escola ambiental.
A 6 de Fevereiro de 1940 o Papa Pio XII, dirigiu aos Párocos e Pregadores Quaresmais um discurso, no sentido de promoverem paroquialmente iniciativas evangélicas de índole ambiental, conforme a Paróquia, mas sem grandes formalismos, para cativa- rem os Jovens para a Igreja. Em 1941, aparece o Jovem Eduardo Bonnín, a discursar numa Assembleia Paroquial, sobre “a identificação dos ambientes e a influência das pessoas na sua transformação”.
Os Jovens já conheciam bem, a figura de líder que era Eduardo, mas depois deste discurso, a inquietação da Direcção da Acção Católica ficou a ser muito maior, pre- cisavam dele para integrar os seus quadros. Tinha sido várias vezes convidado para pertencer, mas ia recusando, até que em Novembro de 1942, aceita fazer parte da Direcção da Acção Católica Juvenil, com a responsabilidade da Reconstrução Espiri- tual. “Não fazia parte da Acção católica e a sua maneira de ser não me entusiasmava a entrar. Sempre gostei de ser livre, acredito que o que tem valor é a liberdade. Quando te condicionam começas a perder. E o pior é quando alguém pretende que os seus erros de ortografia se convertam em regras de gramática.” “Eu dizia que nem todos da acção católica eram tontos, mas que todos os tontos se inscreviam na Acção Católica.”
É nesta qualidade, que o seu amigo José Ferragut, Presidente da Acção Católica na Diocese de Palma, o convida para participar no 2º. Cursilho de Chefes de Peregrinos, para este, vieram outros jovens de Madrid, com outro estilo e outras coisas. Aceita o convite e frequenta durante uma semana o 2º. Cursilho de Chefes de Peregrinos que se realiza no Santuário Senhora de Luc em Maiorca, durante a Semana Santa de 1943, depois de ter recusado participar no 1º em 1941. Depois de frequentar o Cursilho e porque Eduardo Bonnín conhecia os ambientes do mundo, entendeu que era necessário preparar Jovens para irem em Peregrinação a Santiago de Com- postela, mas também, preparar Jovens para os ambientes da vida, para o mundo. Eram necessários Jovens com fé, para abrirem novos caminhos, para rasgarem as fronteiras do comodismo e do beatismo, Jovens que incondicionalmente aderissem à mensagem que Cristo trouxe ao mundo. E é nesta esperança de prosperidade Cristã, que depois do Cursilho Eduardo disse; que a mensagem lhe parecia correcta, mas os participantes estavam inquietos, por demorar uma semana.
Já integrado na Direcção da Acção Católica e da inquietação que trazia do Cursilho de Chefe de Peregrinos, começou por colocar questões importantes sobre as diver- sas situações que lhe pareciam menos correctas. Quem devia ou não participar no Cursilho, a duração do mesmo, que Rolhos e Meditações deviam ser proclamados! Por ter manifestado este tipo de opinião, veio de imediato o 1º conflito com alguns Dirigentes da Acção Católica mais conservadores. Mas teve o apoio do Assistente Espiritual Pe. José Dameto, do Presidente José Font e dos Dirigentes, José Ferragut,
Jaime Riutort, Joan Mir, Andrés Rullán, Bartolomé Riutort e Guilhermino Estarellas. Foi entre estes e neste ambiente, que ficou decidido, que os futuros Cursilhos de Chefes de Peregrinos, se passavam a realizar em três dias e três noites, com partici- pantes de diferentes níveis sociais e de fé, inteligentes ou ignorantes ou seja, que os Cursilhos passavam a ser heterogéneos. É aqui, que aparece o perfil do leigo Eduardo Bonnín, que por inspiração divina, aperfeiçoa vários Rolhos, “Piedade, Estudo, Acção, Dirigentes e prepara o Rolho “Estudo e Animação do Ambiente”, propulsor de uma nova forma de evangelizar os ambientes do mundo.
É aqui e assim, que se cria a génese do Método do Movimento dos Cursilhos de Cri- standade, assente numa Essência e com uma Finalidade, diferente da dos Cursilhos de Adelantados de Peregrinos da Acção Católica.
Foi neste clima bastante conturbado, que nasce o primeiro Cursilho de Cristandade, onde pela primeira vez, é incluído o Rolho do Estudo e Animação dos Ambientes, de 20 a 23 de Agosto de 1944, com 14 assistentes, num Chalé de Cala Figuera de San- tanyi em Palma de Maiorca, que teve como Reitor Eduardo Bonnín, como membros da equipa, Jaime Riutort e José Ferragut e como Assistente Espiritual D. Juan Juliá, que foi ao Cursilho proclamar as Meditações da manhã e presidir à Celebração da Eucaristia no último dia.
Os esquemas dos Rolhos utilizados nesse Cursilho, têm-se mantido inalterados no Secretariado de Palma até aos nossos dias assim como, as Meditações que D. Juan Capó proclamou no Cursilho numerado com o nº. 1 em 1949, mais dois Rolhos prepa- rados por Eduardo e incluídos nos anos 50, “Seguro total e Reunião de Grupo”. (Rolho Grupo e Ultreia).
O Bispo D.Juan Hervas Chega a Palma em Março de 1947. D. Juan Hervás depois de tomar contacto com a realidade dos Cursilhos, convoca os seus Dirigentes para uma reunião, ficando decidido, que de futuro passavam a reunir semanalmente no Palácio Episcopal em Palma e que a Escola de Dirigentes de Palma, passava a ser considerada institucional e o seu Núcleo de Dirigentes o Fundacional dos Cursilhos.
Em Novembro de 1949 realizava-se em Palma de Maiorca a XI Assembleia Plenária Diocesana da Acção Católica. Eduardo Bonnín apresentou o resumo das actividades realizadas durante o ano e o projecto para o seguinte, tendo citado que; “entre todas as que tinham sido realizadas, as que tinham sobressaído, foram os Cursilhos de Cri- standade”, acrescentado de seguida que; pedia publicamente a D. Hervás que decid- isse, “se os que queria ou não”. E Eduardo continuou; “se nos diz que temos de parar, pararemos, se nos disser que podemos continuar, continuaremos?” Eduardo Bonnín repetiu esta frase 3 vezes, para que ninguém tivesse dúvidas. D. Juan Hervás, levan- tou-se e disse a frase conhecida de todos nós, “ Eu, os Cursilhos de Cristandade, não os abençoo com uma das mãos, mas sim com as duas”. É neste ambiente de euforia
Cristã, que se vão realizando Cursilhos quase todos os meses, até que, em Dezembro de 1954, D. Juan Hervás cria em Palma de Maiorca o Secretariado Diocesano dos Cursilhos de Cristandade. E em 1955 é transferido pelo Episcopado Espanhol e colo- cado em Madrid, como “Bispo Prior das Ordens Militares da Cidade Real”. Entre Maio de 1964 e Outubro de 1966, há diversas divergências entre ele e Eduardo Bonnín, sobre a verdadeira origem do Movimento dos Cursilhos de Cristandade.
Em Novembro de 1972, participa no III Encontro Mundial de Dirigentes em Palma de Maiorca, com 147 Delegados vindos dos diversos Países do Mundo. Eduardo Bonnín esteve presente neste Encontro, onde se reconheceu a necessidade da criação de um livro de orientação Universal do MCC, ao qual se iria dar o nome de “Ideias Funda- mentais”. Pe. Sebastián Gayá, em 1944 funda a Escola de propagandistas da Acção Católica em Palma de Maiorca, em Novembro de 1947 é nomeado por D. Juan Hervás Assistente Espiritual dos Jovens da Acção Católica da Diocese de Palma de Maiorca, em substituição do Pe. José Dameto, ficando a acumular com o de Secretário da Câmara Eclesiástica e deixa a sua acção na Pastoral Universitária. Em Agosto de 1948 realiza-se a Peregrinação de Jovens de Espanha a Santiago de Compostela.
E apesar das grandes dificuldades materiais, logísticas e económicas, 623 jovens de Palma de Maiorca, vão em Peregrinação a Santiago. Mas a viagem também precisava de alimento espiritual. Para o efeito, são aproveitados alguns textos de Rubén Dário e o Pe. Sebastián Gayá, elabora outros para a “Hora Apostólica” e para alguns actos “Litúrgicos”. É assim, que aparece um livrinho de bolso, que se vai chamar, “Guia do Peregrino”. O Pe. Sebastián Gayá era um Sacerdote Jovem, com uma já reconhecida liderança e capacidade de intervenção nos meios eclesiais e culturais, pelo que, de- pois de ter assumido a Assistência Espiritual dos Jovens da Acção Católica em Palma de Maiorca, acelerou todo o processo para o reconhecimento dos Cursilhos pela Ig- reja, através do Bispo D. Juan Hervás.
Algum tempo depois de D. Juan Hervás ter sido transferido e de estar a trabalhar na Cidade Real, ele vai para lá e passa a ser o seu mais destacado e directo colaborador. Em Abril de 1974, esteve em Palma de Maiorca para uma reunião com a presença do Pe. Sebastián Gayá, Pe. Arizti, Eduardo Bonnín e Carlos Mântica, com a finalidade de ultimarem a concretização escrita, das ideias básicas da identidade do livro IF, para posterior publicação. Gayá e Bonnín embora tivessem discordado de muitas coisas, havia algumas em que sempre estiveram de acordo, entre elas as que; “O Cursilho tinha de assumir no método, uma dimensão intercultural e ambiental, sem idade limite para qualquer participante, fosse ele Leigo ou Sacerdote”.
Sebastian Gaya, faleceu no Perú (América Latina) onde residia, a 24 de Dezembro de 2007, os seus restos mortais, por vontade própria, repousam em túmulo, na Cape- la do Cemitério do Mosteiro de Santo Honorato no Monte de Randa em Palma de Maiorca. Pe. Juan Capó, um Sacerdote da Diocese de Palma, Tem o 1º contacto com
os Cursilhos, na Assembleia de Jovens em Novembro de 1948, tendo aceite proc- lamar uma das Meditações. No Cursilho realizado no Mosteiro de Santo Honorato no Monte de Randa, de 7 a 10 de Janeiro de 1949 (que por ordem do Bispo D. Juan Hervás, é numerado oficialmente com o nº. 1), o Pe. Juan Capó, participa e apresen- ta como relevante, três esquemas de Meditações, para as três noites do Cursilho. Eduardo sentiu a força do Espírito Santo através daquelas Meditações, no coração de todos os participantes.
Depois do Cursilho, conversou com D. Juan Hervás e com o Grupo dos iniciadores, para que as mesmas, daí em diante, passassem a ser incluídas no Cursilho e a fazer- em parte integrante do Método. A equipa de Dirigentes deste Cursilho, era composta pelo Assistente Espiritual Pe. Guillermo Payeras, Reitor Eduardo Bonnín, (Rolhistas) Bartolomé Riutort, Andrés Rullán e Guillermo Estarellas, e o auxiliar Guillermo Font, com uma participação de 21 Assistentes.
Depois deste Cursilho, aparece o 1º desentendimento entre Eduardo Bonnín e o Pe. Juan Capó. Este defendia a tese, que cada Cursilhista devia ter uma Reunião semanal com um determinado Sacerdote, que se co-responsabilizava solenemente pelo seu aperfeiçoamento espiritual, enquanto Bonnín defendia que, o método da Reunião de Grupo, devia ser formada e mantida pela amizade entre os Cursilhistas.
O desentendimento foi tão grande, que D. Juan Hervás determinou que, a reunião de Grupo não era peça essencial do método. Passado algum tempo e depois de Eduardo Bonnín e do Pe. Juan Capó se terem entendido, D. Juan Hervás, durante a Assembleia anual dos Jovens da Acção Católica, em Novembro de 1949, incorpora de novo a Reunião de Grupo como parte integrante do método. Também é curioso dizer, que anos mais tarde, é o próprio Pe. Juan Capó, que escreve um livro com o titulo, “Re- união de Grupo, Teoria da sua Prática”, onde incorpora a experiência que ele tinha do Movimento, mas com as ideias chave de Eduardo Bonnín, conforme ainda hoje conhecemos e a “folha de serviço ou folha de compromisso”, como proposta de D. Juan Hervás.
Quero sublinhar, que o livro tem uma dedicatória muito interessante, com o seguinte texto que passo a citar; “Ao Grupo de valentes que, na madrugada do inverno de 1948, tentavam, junto do Senhor, fazer a sua entrega mais eficaz e entusiástica… A Eduardo, João, Guilherme e António, que abriram caminho com as suas experiências, compartilhando a alegria da descoberta e a Graça da primeira Reunião de Grupo. Agradecendo-lhes no Senhor”. Guilhermo Estarellas, antigo dirigente que introduziu a canção do De Colores, num cursilho em 1948 realizado em Montision de Porreres para expressar as vivências e sentimentos, para desintoxicar e oxigenar o espírito no Cursilho.. Cristóbal Almendro no ano de 1951, descobriu a analogia existente entre a Graça e a letra da Canção. Foi a partir daqui que se tornou o De Colores como o Hino do Movimento.De Agosto de 1944 a Fevereiro de 2008, Eduardo Bonnín nun-
ca mais parou, tendo com a ajuda do Espírito Santo, com a sua vitalidade, alegria e humildade, implantado o Carisma deste Movimento Evangelizador, em todos os Con- tinentes. O Papa Paulo VI em 14 de Dezembro de 1963, declarou patrono do MCC, o “Apostolo S. Paulo”. Muito mais se podia dizer sobre a história do Movimento, na pessoa de Eduardo Bonnín, mas melhor do que eu, a sua entrevista no Livro “Apren- diz de Cristão” a relata com toda a sua sabedoria e humildade cristã.
Eduardo Bonnín participou em várias reuniões com Leigos e Sacerdotes e em Ul- treias, em todo o mundo Cursilhista, onde os Cursilhos são fonte de Cristianismo autêntico, foi recebido pelos mais altos Dignitários da Igreja. Foi recebido pelos Papas Paulo VI, João Paulo II e por Bento XVI. Em Portugal, Eduardo esteve várias vezes e em vários locais refiro por exemplo Évora, Ponta Delgada e em Angola (ao tempo gover- nada por Portugal), em Março de 1982 em Fátima, em 1998 no Porto, Fátima, Lisboa e Cascais, tendo participado em reuniões com Bispos, Padres, Leigos e em Ultreias, sendo recebido nessas datas, pelos então Cardeais Patriarcas de Lisboa.
Eduardo Bonnín Aguiló
Eduardo Bonnín Aguiló
